quarta-feira, 13 de abril de 2011

CARTAS DE AMOR MONOLOGO

CARTAS DE AMOR

A MULHER QUE ESPERA

Eu não me canso de ler essa carta, ela marca um ponto onde perdi a minha grande paixão de vista, todo mundo tem uma história de amor, eu sei. A minha guardo em segredo há anos.

Meu nome é Vânia eu sou psicológa, e cuido de tantas mulheres de alma machucada, relacionamentos podem ser facas bem afiadas... Como entender o amor!

Sou especializada em Psicologia das cores: Cromoterápia!!! O Paulo me chamava de psico-arco-iris.Por exemplo você pode fazer um frango xadrez, nao o chinês, vermelho e branco mesmo. A carne do frango cortada em cubinhos, muito pimentão vermelho e amendoim, caramelo com corante... O vermelho excita e o branco acalma e o preto seduz. Um bom licor de “blue curaçao” descontrai e afasta pesadelos... Feito de laranjas do Caribe, muitos chamam de mar em chamas. Meus jantares são grandes experiências, meus convidados, ilustres cobaias. Amigas, tem dado certo!!!



Há 19 anos atrás na época do impeachment, conheci o Paulo, num escritório de engenharia, eu assistente de Recursos Humanos, ele estagiário. Flertes de escritório... Começamos a namorar, sair, ir ao cinema, jantar, o Paulo era gentil, um cavalheiro, elegante e formal, pra mim quase um Richard Geere.

Mal pegou o canudo e já foi trabalhar num projeto enorme. A gente queria se casar, parecia tudo perfeito... quase perfeito... Tinha uma coisa, uma coisinha, que depois foi virando uma coisona. O Paulo sempre fazia viagens, onde ele acompanhava grandes obras. Grandes obras, grandes viagens, grandes saudades. Lindo meu futuro marido viajando e conquistando o mundo.

Saudades do Sol na piscina da casa dele, saudades das escapadas para o chalé em Monte Verde, dos cafés coloniais, da guerra de almofadas coloridas, dos passeios de helicóptero, as surpresinhas que ele me proporcionava...

Grandes saudades, grande solidão...

- Querida, logo estaremos juntos, envio-lhe esse relógio pra você contar os minutos que faltam pra eu chegar.

Eu contei minutos, horas, dias e meses... e esperei tanto que aquilo formou um grande vazio dentro de mim, eu já era a própria Rosita de Lorca, e costurava meu enxoval, quilômetros de enxoval e costurava no mundo os sonhos de uma jovem: meu casamento, meu véu, minha grinalda, o altar as flores o cheiro do jasmim. Um noivo que nunca chega.



-Alô Paulo, não aguento mais esperar quero terminar tudo! Ah! o relógio que você me deu, acabou a bateria e minha pilha de espera chegou ao fim!!!! Sayonnara!!! Tum!!!! Bati o telefone!

(pausa) (olha o relógio)

Minha amiga Paula. Foi ela. Me pescou da depressão na qüinquagésima tentativa. Já anoitecia e minhas lágrimas choviam no telhado. “Vamos, amiga, vamos no sarau comigo! Você vai se divertir”. Vi um relâmpago na janela e algo se acendeu dentro de mim. Eu vou. Hoje eu vou. Eu acredito em sinais.



Sergio, a primeira vez que o vi, tava tão bonito, e tocava violão e cantava tão lindamente . Quando nossos olhos se encontraram naquela noite eu vi seus olhos brilharem com o meus.

Eu achei tão maravilhosa aquela canção, lembrou minha infância. Como é mesmo??? (Cantarola a canção).-Serenô eu caio eu caio...

Quando dei por mim nos eramos os últimos do Sarau.O Sergio me ofereceu uma carona.

Eu até pensei por um momento em não ir, mas a minha amiga Paula tava tão louquinha pra sair com o amigo dele, que disse:

-Vai amiga aproveita, não seja boba até outro dia você tava aí abandonada mofando...vai logo!!!! ...

Chegamos na casa dele, um vinho delicioso e uma conversa fácil, gostosa, sem fim... Pela madrugada, quando senti seus lábios tocarem os meus senti o arrepio fatal do primeiro beijo. E foram tantos beijos...(canta)

Parecia que só existia eu e ele, e o mundo lá fora era uma amnésia.

Quando dei pro mim TUHM!

Acordei as presas, coloquei a bolsa embaixo do braço e fui saindo,... e o Sergio sonolento veio atrás de mim e me convidou pra um café no final da tarde. Sem pensar eu aceitei ...



Voltei pra casa e a amnésia acabou... e me lembrei dos estudos de cromoterápia, da faculdade, do trabalho que nem fui naquele dia, da minha amiga....onde estaria minha amiga Paula a essa hora? (pausa) e quando lembrei da Paula, lembrei do Paulo (reflexão) Paula Paulo, Paula Paulo, Paulo Sergio !!!Sergio Paulo.Ahhh!!!!..e senti medo!!Ai e agora!!???





Ainda atordoada, fui para o encontro no café, claro que como todo paulistano, peguei a marginal parada, e pra fugir daquela pressão do trânsito peguei um desvio e entrei na contra mão atrás do Shopping, olhei a lua, era quarto-minguante...é rrihhhhhhhhhhhh..., quase bati no carro.... do Paulo!!!...O carro do Paulo!!! As rodas cromadas...a capota conversível!

Na verdade hoje nem sei se era o carro do Paulo, mas naquele dia eu tinha certeza.

Pra mim que estudo, misticismo: -Era um sinal!!! Um sinal que alguma coisa, tava errada, alguma coisa, meu Deus...Um sinal. Acredito em sinais....!!Eu não podia negar os sinais e quando cheguei no café assustada, o Sergio já esperava a uma hora, então contei pra ele e terminei o que nem havia começado...............e disse perdida:

- A gente não pode ignorar os sinais Sergio fica com Deus! Vou embora, melhor assim, tchau! E saí correndo.



Os dias passaram eu não esquecia o Sergio, sentia culpa e uma estranha saudade. SAUDADE!!!! Do que? Eu mal conhecia esse sujeito? É... Algo tinha nos ligado. Um relâmpago... Acho que entendi o sinal errado...

Mandei uma carta pra ele insinuei que queria vê-lo. Ele não hesitou e me convidou pra sair...

Ah, Tratei logo de comprar um vestido, tomei um banho de banheira com rosas, e fui pra um encontro especial. Meu lado mulher estava vivo de novo!!! Que noite... Que noites... Dançavamos nas noites quentes de verão. Ouvíamos Chico. Dançavamos flamenco! Ele me revitalizava, soprava vida em mim. Pendurava meu vestido na parede e me enchia de beijos...

Eis o grande sinal! Eu estava APAIXONADA como nunca!



Será que eu estava apaixonada? Apaixonada? Quer dizer...era claro que o Sérgio estava apaixonado. E é tão bom a gente se sentir desejada. Poderosa! Paparicada! Quem não gosta? E o Sérgio com sua roupa mal passada! Geladeira vazia! Corcel II com a porta quebrada, chovia dentro! Barba por fazer!

Mas era bom estar com ele. O ótimo é ilusão! Saber valorizar o bom é o segredo da relação.

O Sérgio me acompanhava em todos os lugares. Ia comigo ao mercado, à faculdade, à farmácia, à padaria, ao médico, ao lava-rápido, ao mecânico...e até ao cabeleireiro. Ele e seu violão!

E o tempo foi passando...E então o Paulo começou a falar cada vez mais em filhos....em família...estabilidade...que estava pronto para dar o passo.

De repente ele volta de uma viagem...radiante de alegria...tinha se tornado sócio na empresa. Se declarou e me pediu em casamento. Falou de um jeito tão confiante. Que loucura! Eu... me casei com o Paulo.
E hoje...o que me resta é esta carta que escrevi ao Sérgio...devolvida ao remetente



Sérgio,

Te procuro por todos os lugares, sem nenhum sinal. Você nunca mais saiu da minha cabeça, e nunca mais voltou... Choro e soluço o tempo todo. O meu grande amor perdido... e milhões de porquês.



Te encontrei sempre nos meus sonhos... Num deles, nossas almas se encontravam no topo de uma montanha. Você me beijava com tanto amor... Depois ia ao riacho e lavava as mãos... Em outro você era capitão e voltava num navio... Eu esperava no porto... Te vi ao longe, e meu olhar teve a toda alegria que vem depois de uma grande espera. Tantos sonhos... Tantas saudades... Te espero. Eu sou a mulher que espera.



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